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Ana Doce

A dama atlântica que mostra que a felicidade não depende do que temos, mas do que somos

Pelos olhos de uma Cubanita - Isis Robaina


Lisboa apaixona desde o primeiro momento aqueles viajantes que, como eu, não andam na pressa do relógio e que procuram os pequenos prazeres da viagem e da própria vida. Imortalizada há séculos por sua história lendária e beleza antiga, é uma cidade que envelhece com orgulho e dignidade como se fosse uma bela dama.

Porque se Lisboa tem algo, são razões para deixar-te louco. Para te fazer querer deixar tudo e te entregar a ela sem pedir nada em troca. Porque é ouvir o nome dela e ficar com um sorriso desenhado no rosto. Porque Lisboa cheira, tem gosto e sente-se de maneira diferente, e não há um recantos que não te faça querer ficar cá para sempre.

Lisboa é única nos seus detalhes. Nos seus cantos sonhadores. Nas suas mensagens, aquelas que lança mesmo sem te aperceberes. No pôr-do-sol, nos miradouros, nas encostas, nos elétricos e nos azulejos. Nas janelas, nas varandas, nos cabos que emaranham o céu. Nos comércios, nas placas das ruas e até nas praças. Lisboa é muito mais que Alfama, Bairro Alto, Chiado ou a Baixa, mas a sua essência reside neles. E neles estão as chaves que me fizeram apaixonar por esta cidade um dia.

O que seria de Lisboa sem o seu suporte mais destacado? O barulho dos elétricos enquanto viajam de um lado para o outro da cidade e compõem a trilha sonora da capital portuguesa. Existem amarelos e vermelhos, mesmo com alguma publicidade neles, mas eles mantêm consciente a essência mais pura da Lisboa da vida toda.

Encostas, curvas e ruas estreitas: é como se nos movêssemos sem pressa, mas sem parar pelas veias de uma cidade com um passado longo, mas que ao mesmo tempo tem uma vida inteira pela frente.

Lisboa fala. E deixa mensagens para todos os que queremos entendê-las. Alguns, mais diretos, outros ocultos, disponíveis apenas para quem realmente a ama. Assim, torna-se a linguagem secreta entre ela e os viajantes que andam pelo mundo à procura de cidades reais, aqueles que fogem de “liftings” porque sabem que a verdadeira beleza está nas suas rugas.

Nas fachadas dos seus edifícios mais descarados, em becos escondidos, ao lado de alguns de seus elevadores clássicos ou, simplesmente, na parede antiga de uma casa em ruínas. Suas mensagens falam da vida, do dia a dia, do amor e do real. Ativa os teus sentidos e observa. Vais ser capaz de ouvi-la através dos teus olhos.

Há quem pense que Lisboa é decadente demais. Que seus edifícios meio arruinados lhe dão uma aparência suja e antiga. Que deveriam modernizá-la mais e transformá-la em uma capital renovada. Sinceramente, acho que é perfeita do jeito que é. Seus prédios abandonados e meio arruinados são precisamente uma grande parte desse charme que a caracteriza. Dão a imagem de uma cidade frágil e delicada. Mas tratasse apenas de uma máscara: Lisboa é realmente uma cidade forte com personalidade. Sem esses edifícios em ruínas, Lisboa não seria Lisboa.

O fado nasceu aqui e talvez seja por isso que caminhar por Lisboa seja também sinónimo de nostalgia. De "Saudades", palavra de difícil definição no espanhol, que expressa um sentimento afetivo primário, quase melancólico, estimulado pela distância temporal ou espacial de algo amado e que implica o desejo de resolvê-la. Muitas vezes carrega o conhecimento reprimido de saber que o que está a faltar nunca vai voltar.

Lisboa é alegre e triste ao mesmo tempo, mas Lisboa sabe como te fazer feliz.

A mim cativou-me no primeiro instante, e por cá fiquei, e agora trilho todas as suas ruas à procura das melhores soluções para quem procura uma casa nesta cidade ímpar.


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